HUMANOS X TUBARÕES
Na tela dos filmes e em muitas histórias de pescador o tubarão é o maior vilão, mas é o homem quem mata 70 milhões de tubarões por ano — só para lhes arrancar as barbatanas — e enche de lixo os oceanos onde eles vivem.
Sempre que um tubarão ataca um banhista, evoca-se sua condição de grande predador dos mares. A reputação é justa, já que ele é carnívoro e está no topo da cadeia alimentar dos oceanos. A imagem da fera que ronda as praias à espreita de humanos desavisados para lhes mastigar os membros, porém, é falsa. Os ataques de tubarões a mergulhadores são acidentais e ocorrem quando eles são confundidos com focas, tartarugas, leões-marinhos e peixes de grande porte.
Em comparação com suas presas favoritas, o ser humano tem pouca gordura no corpo e não agrada ao paladar dos tubarões. É por isso que suas vítimas não são devoradas — quando o ataque acaba em morte, é por hemorragia ou afogamento.
Uma preciosidade da evolução, os tubarões surgiram antes mesmo dos dinossauros, há 400 milhões de anos, e agora começam a sucumbir à sanha destruidora do ambiente do bicho homem. Dessa forma, se os tubarões atacam o ser humano por acidente, a recíproca não é verdadeira, pois esses peixes contam-se entre as maiores vítimas da pesca predatória no planeta.
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Nova Southeastern e da Universidade Stony Brook, ambas nos Estados Unidos, concluiu que todo ano 73 milhões de tubarões são pescados. Das 465 espécies já identificadas pela ciência, 74 estão ameaçadas de extinção. Apenas uma parte ínfima dos animais é pescada para que sua carne se transforme em alimento — no Brasil, essa carne chega à mesa sob o nome de cação.
Os tubarões são particularmente sensíveis à pesca predatória porque têm poucos filhotes e o tempo de gestação é relativamente longo, de oito a onze meses, dependendo da espécie. Não existe lei internacional que restrinja a pesca do tubarão para a retirada das barbatanas. Alguns países, porém, têm tomado medidas para evitar a rápida diminuição das populações do animal. Quatro Estados americanos, Califórnia, Havaí, Washington e Oregon, proibiram em 2009 o comércio de barbatanas e a sopa não pode mais ser oferecida pelos restaurantes. Do outro lado do planeta, Maldivas e Palau também proíbem a pesca. Os três países contam com o tubarão para atrair turistas. Nas Bahamas, os mergulhos de observação rendem 80 milhões de dólares por ano à economia do país.
No Brasil, também se pratica a pesca para a retirada de barbatanas. Em agosto do ano de 2008, o Ibama apreendeu 1 400 quilos de barbatanas congeladas que seriam remetidos irregularmente para Hong Kong. A empresa pesqueira responsável foi multada em 128 000 reais porque não conseguiu mostrar as carcaças correspondentes — o que leva a crer que os tubarões mutilados haviam sido jogados de volta ao mar.
Vanessa De Oliveira Rocha