Tubarão, o estigma dos mares

 

Descrição Palestra – Tubarão, o estigma dos mares

 

Júlia Almeida Moraes

 

     Considerados animais sanguinários, os tubarões, passam à assumir o papel de vilões dos mares, isso, porque desde a infância somos ensinados a temer determinadas situações e certos animais que efetivamente possam nos causar algum dano físico. Tal ensinamento se consolidou de forma mais incisiva com o lançamento de filmes como Tubão, Sharknado, Sharkatac que retratam esses animais como bestas feras mortíferas que merecem ser exterminadas. Surge, então, como solução para a segurança limpar as águas infestadas por estes terríveis animais.

     Morfologicamente, os tubarões são dotados de atributos que o fazem um exímio caçador, permitindo assim, que detecte sua presa á longas distâncias. Portanto era de se esperar um grande número de vítimas fatais, mas de acordo com pesquisas do Instituto Aqualong, existem outros fatores que levam a morte que são bem mais prováveis e frequentes, causadas como por exemplo pelos cervos que matam ao ano cerca de 130 pessoas, também há registros de 20 mortes por ano nas partidas de futebol americano e até mesmo nas promoções relâmpago como Black Friday 550 pessoas chegam a óbito por ano.     

     É evidente que os tubarões são nenhum bichinho de estimação, contudo das 400 espécies viventes apenas três representam real perigo aos seres humanos e são elas o tubarão-branco, tubarão-tigre e o tubarão-cabeça-chata. Sendo 90% dos ataques acidentais por erro de identificação e/ou invasão de território, já que o ser humano não é sua presa habitual visto que possuem pouca gordura se comparados com os animais que eles geralmente comem como focas, leões-marinhos entre outros peixes de grande porte. Mas dentro dos eventuais ricos de quando se coloca exposto à fonte de perigo que no caso é o tubarão, ainda assim, o mergulho com estes animais é mais seguro que outras atividades recreativas ou esportivas como por exemplo paraquedismo, voo de asa-delta e até mesmo ciclismo. Vale mencionar que quando o ataque resulta em morte é por afogamento, hemorragia ou pela demora no atendimento.

     Atrelado à sua má reputação e ao papel midiático os tubarões tem sido alvo da pesca insustentável e desenfreada colocando assim mais de 74 espécies em risco de extinção. Isso se dá como reflexo da mercantilização da vida, ao passo que grande parte da população vive não só movida, mas com em função do consumismo esquecendo que os recursos disponíveis no mundo são escassos. Essa subjetivação de uma ideologia de que tais recursos durarão por tempo indeterminado contribuem gradativamente para a degradação do meio ambiente e também da essência humana.

     É preciso considerar não apenas os benefícios mas também a origem dos produtos a serem adquiridos. Os tubarões são alvo da pratica finning que consiste em se retirar as barbatanas do animal e joga lo ainda vivo ao mar, tal pratica leva ao ano mais 100 milhões de tubarões à morte, gerando 1.800 kg de barbatanas processadas, o que corresponde apenas 4% do animal, isso para converter 1 kg dessa cartilagem para 450 dólares, deixando assim mais de 30% das espécies vulneráveis à extinção.

     Essas barbatanas são utilizadas em sopas em que se acredita que tenham propriedades afrodisíacas o que é sem o menor fundamento cientifico, já que não possuem valor nutritivo algum. A sopa de barbatana de tubarão é uma tradição chinesa que vem desde as dinastias Sung e Ming. Não como anacronismo, mas como reflexo daquele tempo, tal tradição se perpetua até nos dias atuais como prenúncio de status. Muitos na china acreditam que que os tubarões sobreviverão mesmo depois do finning, pois suas barbatanas cresceriam novamente, mas na verdade o animal morrerá de qualquer maneira dentre elas tem-se o afogamento, hemorragia e também susceptíveis a serem predados.

     É veementemente preciso que se cumpram as medias de fiscalização como a resolução 121-n do IBAMA que consiste no preenchimento dos relatórios de captura. Devemos preserva-los enquanto mais uma forma de manifestação da vida, enquanto topo da cadeia alimentar e instrumento de seleção natural, portanto regendo o equilíbrio dos mares. Devemos preservar porque “quando os tubarões morrem, o mar morre, e se o mar morre, nós morremos.”