Parasitismo e suas implicações no processo evolutivo

Descrição palestra - Parasitismo e suas implicações no processo evolutivo

Marco Miguel de Oliveira

 

A palestra intitulada “Parasitismo e suas implicações no processo evolutivo” foi estruturada de forma que, em um primeiro momento, fossem abordadas algumas definições sobre o parasitismo e em seguida, o processo coevolutivo e as implicações do mesmo na evolução de parasitos e hospedeiros. Basicamente, o intuito da apresentação era o de desmistificar a visão de que os parasitos são vilões e demonstrar que, além das pressões ambientais, o parasitismo estabelece uma relação íntima com a seleção de genótipos resistentes e consequentemente “impulsiona” a evolução dos organismos.

Na Biologia, sabe-se que nenhum indivíduo é capaz de viver de maneira isolada, ou seja, de algum modo ele terá de se relacionam com outro ser, pertencentes ou não à mesma espécie. Nesta perspectiva, as interações podem ser encaradas sob dois pontos de vista: interações interespecíficas (estabelecida entre diferentes espécies de uma mesma comunidade) e intraespecíficas (estabelecida entre indivíduos da mesma espécie em uma população). No que diz respeito a essas interações, a natureza das mesmas é explicitamente trófica, ou seja, os organismos se relacionam visando exclusivamente obter alimento. Ainda neste âmbito e considerando as interações interespecíficas, quando a sobrevivência dos organismos de uma espécie se estabelece com base na dependência de nutrientes produzidos por outros indivíduos, tal relação é categorizada como parasitismo.

Quanto aos componentes desta relação, parasito e hospedeiro, os mesmos são definidos respectivamente como: “organismo associado e metabolicamente dependente dos indivíduos de outra espécie” e “indivíduo que, em circunstâncias naturais, possibilita a subsistência de um parasito”. Basicamente, os parasitos podem ser classificados em: microparasitas (apresentam dimensões microscópicas e passam todo o seu ciclo de vida em contato com o hospedeiro), macroparasitas (possuem dimensões maiores e passam apenas uma parte do seu ciclo de vida em contato com o hospedeiro), endoparasitas (vivem no interior do corpo do hospedeiro), ectoparasitas (vivem na superfície do corpo do hospedeiro) e hiperparasitas (parasitos que parasitam outros parasitos). Por viverem em uma associação íntima com outra espécie, os parasitos desfrutam de um ambiente fisicamente benigno visto os mecanismos de reconhecimento e destruição de invasores dos hospedeiros. Além disso, os parasitos devem se dispersar através de um ambiente hostil para saltar de um hospedeiro para o outro. Muitos executam essa tarefa através de complexos ciclos de vida, os quais normalmente envolvem mais de um hospedeiro ou formas de resistência que passa pelo ambiente externo. Assim sendo, designa-se como monoxeno o ciclo de vida daqueles parasitos adaptados a utilizarem apenas um hospedeiro. Por outro lado, no ciclo polixeno os parasitos são adaptados a utilizar mais de uma espécie como hospedeiro. No que diz respeito à polixenia, há a presença de hospedeiros intermediários (nos quais o parasito se reproduz assexuadamente), definitivos (onde o parasito se reproduz sexuadamente) e vetores (organismo que devido a comportamentos específicos, potencializa a transmissão do parasito).

 

Sabe-se que os parasitos são selecionados para explorar hospedeiros suscetíveis. Entretanto, como as populações possuem frequências gênicas variáveis, alguns hospedeiros carregam alelos que conferem resistência a certos parasitos. Pelo fato de não serem parasitados, esses indivíduos tem certa vantagem seletiva e, com o passar do tempo os genótipos resistentes tornam-se mais frequentes na população. Os parasitos, no entanto, são selecionados no sentido de explorar esses novos genótipos. Assim, pode-se dizer que os hospedeiros são organismos que estão sobre pressão seletiva para evitar a ação do parasito. Enquanto que, os parasitos são organismos que estão sobre pressão seletiva para evadir as defesas do hospedeiro.

No final de 1980, Leigh Van Valen cunhou a teoria da Rainha Vermelha, uma clara referência ao livro “Alice através do espelho”, de Lewis Carroll. Na história, a Rainha Vermelha diz a Alice: “Você tem que correr o mais que puder para permanecer no mesmo lugar. Se você quiser ir a algum outro lugar, terá que correr ao menos duas vezes mais rápido do que isso.”. O que esta teoria estipula é que a evolução seja algo como caminhar em uma esteira rolante, ou seja, é preciso estar sempre em movimento para permanecer no mesmo lugar e garantir a sobrevivência. Neste sentido, o processo coevolutivo conduz os parasitos a adquirirem uma maior virulência (capacidade de evadir o organismo do hospedeiro) e os hospedeiros a uma maior resistência (característica de um organismo que não é susceptível à invasão e alojamento de um parasito).

Outra questão relevante abordada foi a relação entre parasitismo e sexo. Basicamente, a evolução da reprodução sexuada ainda é um dos quebra-cabeças da Biologia. Uma possibilidade é a de que a reprodução sexuada beneficie um organismo pelo aumento da variabilidade genética de sua prole. No caso do parasitismo, hospedeiros com uma maior variabilidade genética tem uma maior vantagem adaptativa, ou seja, são capazes de resistir mais as pressões dos parasitos. Em 1970, W. D. Hamilton construiu um programa que fazia predições acerca da relação sexo e doenças. Tudo começou com uma população imaginária, sendo que alguns indivíduos se reproduziam sexuadamente e outros assexuadamente. Em um primeiro momento, ao comparar essas duas modalidades de reprodução, percebeu-se que a reprodução assexuada sempre se destacava.  Isso devido ao fato de que ela é consideravelmente mais fácil de ser realizada e é uma garantia da total passagem de genes para a prole. Em seguida, foi introduzida a variável parasitismo. Os hospedeiros menos resistentes e os parasitas menos virulentos foram rapidamente mortos nas primeiras gerações. Já no fim do experimento, percebeu-se que desta vez a reprodução sexuada se destacou. De forma geral, esta modalidade de reprodução gera novas combinações de genes, os quais podem determinar certa resistência aos parasitos. Uma evidência experimental foi obtida pelo estudo do molusco Potamopyrgus antipodarum. Este animal vive em água doce, realiza tanto reprodução sexuada como assexuada. Nessa espécie, a reprodução sexuada se torna mais frequente conforme o molusco é parasitado Microphallus spp.

Por fim, foi feita uma conclusão de todas as implicações do parasitismo no processo evolutivo dos componentes desta relação e questionado como seria a vida sem os parasitos.

 

Referências

FORATTINI, O. P. Ecologia, Epidemiologia e Sociedade. Artes Médicas: São Paulo, 2. ed., 2004.

 

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RICKLEFS, R. E. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 6. ed., 2010.

 

RIDLEY, M. Evolução. Artmed: Porto Alegre, 3. ed., 2005.

 

 TOWNSEND, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L. Fundamentos de Ecologia. Artmed: Porto Alegre, 3. ed., 2010