Descrição palestra - Efeito Lolita: influências da mídia na erotização

 

Descrição palestra - Efeito Lolita: influências da mídia na erotização

Renata Alexandre Bianchi

Falar sobre sexualidade atualmente não deve ser apenas sinônimo de liberdade e prazer, mas de respeito com a diversidade. Este tema não foi tão difícil de ser tratado nos primórdios da civilização, mesmo que não há relatos de como as crianças eram inseridas no meio, vemos por meio de quadros informações significativas sobre a história da Educação Sexual.

Nas primeiras civilizações a criança participava de festas que exibiam a nudez ou até mesmo pornografia explicita. Não havia preocupação com a infância e muito menos com sua formação, pois eram considerados seres indiferentes socialmente, e só passaria a ter valor quando tivesse um papel na sociedade. Na Idade Média ocorre uma inserção filosófica relacionada a sexualidade infantil: a restrição a qualquer ato, contato ou até mesmo pensamento sexual, e caso houvesse essa desobediência – pecado, deveria ser relatado nas confissões com pessoas que possuíam nível hierárquico religioso, e este aplicaria a penalidade. Mesmo existindo a repressão sexual não houve preocupação com a infância, a criança executava as mesmas atividades trabalhistas que os adultos, e isso refletia em alta mortalidade. Logo, é retratado nos quadros a visão infantil como seres puros, assexuados, personificados como anjos.

            Foi no Iluminismo que surgiu a concepção de infância e a construção de uma família patriarcal burguesa. E mesmo com os estudos ofertados na época, permanecia a formação sexual estabelecida na Idade Média. Foi apenas com Sigmund Freud, que por meio das terapias realizadas com pacientes, foi retratado na literatura que crianças são seres sexuais, que possuem na fisiologia condições de expressar esse comportamento, e reprimi-los resulta em traumas profundos quando adultos.

            Quando vemos a história sexual no Brasil, e principalmente nas instituições públicas de ensino, vemos que foi uma forma de controle e de formação pelo medo e que infelizmente permanece embutido no atual plano pedagógico. A inserção do tema surgiu concomitantemente com a revolução sexual euro-americana (surgimento do anticoncepcional), na década de 60, que no Brasil, era uma forma de expressão sexual muito grande principalmente por parte das mulheres. Os conservadores forçaram instituições de ensino, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, a reforçarem os valores tradicionais e a assimilarem essa liberdade com doenças sexualmente transmissíveis.

            Essa educação pelo medo foi acrescida de uma visão médico-profilática em 1970, que devido à ausência de orientação, as doenças sexualmente transmissíveis aumentarão. Os órgãos públicos apresentaram maior preocupação na década de oitenta, com a AIDS e o auto índice de natalidade, e esse problema de saúde pública foi reconhecido na época, fizeram inclusive uma legislação que reformulasse o projeto inserindo o tema com uma visão holística, mas não aconteceu na pratica pois os valores tradicionais eram mais fortes.   

            A partir da década de noventa, a educação sexual passou a ser realizada por meio da mídia. Esta formula seu plano formativo principalmente por meio de estereótipos e mitos, e que indiretamente – ou diretamente, reflete no comportamento sexual da sociedade, principalmente nas crianças. Isso é conhecido com Efeito Lolita, que interpretado pela sociedade a história de uma criança hiperssexualizada, Dolores (Lolita), e seu padrasto, Humberto, que a molesta sexualmente. Neste caso, Lolita não tinha culpa de ser uma criança erotizada, diferente das caricaturas manipuladas pela mídia, que são Lolitas contemporâneas altamente expostas sexualmente.

          Existe cinco principais mitos transmitidos pelos aparatos midiáticos, e que afeta principalmente a mulher. Foi questionado à algumas mulheres qual condição que todas almejavam alcançar, e mesmo apresentando grandes valores humanos, elas escolheram em unanimidade a condição “hot”, que significa a condição de ser sexy. Para chegar nesse patamar é preciso passar pelos mitos.

O primeiro mito é a condição de se exibir. Quando vemos na televisão, ou clipes musicais, a mulher sempre é mais exposta que o homem, e essa exibição não se restringe apenas às roupas, mas em todo comportamento. Você deve se exibir, ser popular pela liberdade sexual que expõe ao meio e principalmente ostentar essa condição. Mas não é qualquer corpo que pode ser exposto, para isso, é necessário que haja a anatomia de uma deusa. Foi feito uma pesquisa com crianças do ensino básico em que pediu para desenhar a forma perfeita de mulher, e esta possuía cabelos loiros, magra, alta, olhos claros, ou seja, uma Barbye. A beleza deve ser padronizada, e com isso existe várias medidas para alcança-la, como dietas, maquiagem, cirurgias, entre outros.

Quando vemos na história da mídia as mulheres belas, em ordem cronológica, percebemos que houve mudanças com relação a jovialidade (iniciou com Marylin Monroe, 27 anos, e terminou com Lesley Lawson, 16 anos). Tal mito retrata o quanto é importante ser jovem para ser bela, e no caso de crianças, se enquadrar nessa idade, ou seja, se tornar mais adulta. Logo, é importante reconhecer o quanto as mulheres da televisão se personificam como crianças adultas, e o quanto crianças parecem mais velhas. Mesmo com todas essas condições de “hot” existirem, e necessário a formação do homem como pessoas que classificam as mulheres, quanto a beleza e disposição sexual, e principalmente, o comportamento quanto a diferença de gênero. Outra condição exposta é o quanto é sexy quando se é violento, e isso é mostrado em clipes musicais, em filmes de terror – quando as mulheres são brutalmente assassinadas pois fogem do padrão tradicional, ao sair com as amigas ou voltar de uma festa por exemplo, legitimando qualquer violência.

Além disso, o homem não recebe a formação de como agradar as mulheres. Desde crianças, as revistas de garotas como público alvo, educa as melhores formas de agradar o homem, seja os dez melhores beijos, ou as dez melhores dicas para “segurar” o homem no relacionamento. Esse mito além de tratar a mulher como objeto sexual que agrada o homem, também reprime as diversas formas sexuais existentes que são tratadas como anormais comparado com a heteronormatividade.

Essa formação deve ser repensada pela sociedade, e principalmente no âmbito acadêmico. Vejo que a responsabilidade de falar sobre esse tema não deve ser limitada à mídia: é papel da família educar seus filhos, e se este frequenta alguma instituição religiosa esta tem o direito de expor suas ideologias. Mas é papel principalmente da escola, de tratar o tema de forma interdisciplinar, exposto todas as formas de expressar a sexualidade, e respeitar essa orientação que a criança possui. Isso permite autoconfiança e senso crítico nas escolhas. Quando isso deixa de ser feito, prevalece a intolerância com a diversidade, problemas de autoaceitação refletidos em doenças como bulimia e anorexia, roupas, maquiagens, trafico infantil pela projeção sexual formação social, pedofilia, dentre outros. Precisamos falar sobre sexo para evitar esse Efeito Lolita.

 

 

Referências Bibliográficas

 

DURHAM, M. G. Efeito Lolita: a sexualização das adolescentes pela mídia, e o que podemos fazer diante disso. São Paulo, 2009, p. 239.

NUNES, C. & SILVA, E. A educação sexual da criança: polêmicas do nosso tempo. São Paulo, 2000, p. 129.

VALLADARES, K. K. Sexualidade: professor que cala nem sempre consente. Rio de Janeiro, 2016, p. 143.