Efeito Matilda

 

 

Palestra “Efeito Matilda”

Bianca Godoi de Sá Carvalho

 

As mulheres contribuíram para o desenvolvimento da ciência desde seus primórdios. Diferente da visibilidade que os homens tiveram e tem nesse meio, as mulheres nunca foram amplamente reconhecidas. Isso porque existe um sexismo enraizado na sociedade, que fez com que as mulheres fossem privadas do acesso à educação, e ainda que conseguissem, tardiamente, ingressar em escolar e universidades, a forte pressão exercida na diferença de gênero fez (e ainda faz) com que muitas mulheres tenham suas contribuições diminuídas, ou ainda desistam de progredir no meio profissional.

Essa é uma característica que também contempla o meio científico. Graças ao pensamento sexista, o acesso à educação científica propriamente dita era restrito aos homens, o que fez com que a ciência se tornasse um campo majoritariamente masculino. Até o século XX, a ciência era culturalmente definida como uma carreira imprópria para as mulheres, porque para muitos elas não tinham a capacidade de fazer ciência única e exclusivamente por serem mulheres, ou seja, as diferenças anatômicas e fisiológicas ditavam os limites sociais, influenciando na análise do potencial das mulheres neste meio.

Tendo conhecimento sobre essa desigualdade no meio científico, alguns estudiosos, a partir da década de 70, começaram a denunciar esse comportamento. Foi então que em 1993, a pesquisadora em História da Ciência, Margaret Rossiter, cunho o termo “Efeito Matilda”, em homenagem a ativista pelos direitos das mulheres, Matilda Gage. O efeito diz respeito as mulheres que são relegadas a posições secundárias e, muitas vezes, acusadas de não combinarem com a ciência, tendo seus trabalhos considerados inferiores baseados apenas em seu gênero. O Efeito Matilda está relacionado ao Efeito Mateus, que diz que a contribuição de certos cientistas é mais valorizada que deveria. Entretanto, além da supervalorização, Margaret aponta que na ciência, a descobertas e contribuições das mulheres são atribuídas a pesquisadores homens, tendo a participação das pesquisadoras diminuída ou completamente negadas.

Alguns exemplos de mulheres que sofreram com o Efeito Matilda ao longo da história foram: Trotula de Salerno (grande contribuinte para medicina feminina), Nettie Stevens (bióloga responsável pela descoberta dos cromossomos sexuais), Marietta Blau (física responsável pela criação da emulsão nuclear), Lise Meitner (física responsável pela descoberta da fissão nuclear) e Rosalind Franklin (biofísica responsável pela determinação do formato helicoidal do DNA por meio da difração de raio-x).

Infelizmente o Efeito Matilda ão diz respeito a mulheres do passado. O sexismo ainda é muito presente na sociedade, e por muitas vezes sutil no meio acadêmico/científico. Os argumentos utilizados para diminuir uma pesquisadora ainda são muito semelhantes aos usados no passado: mulheres são menos produtivas que os homens. Entretanto, não existe nenhuma prova ou evidência científica de que os cérebros masculinos e femininos possuem diferenças. O que ocorre é uma naturalização do corpo feminino em uma falta de condições cognitivas, que expulsam as mulheres de determinados lugares de produção do conhecimento, tornando a ciência um campo ainda com viés sexista, androcêntrico e branco.

Apesar do amento significativo das mulheres na ciência, e mesmo com a ascensão do feminismo promovendo mudanças sociais, ainda se evidencia que essa participação ocorre de modo dicotomizado e aquém da masculina. Por isso e necessário chamar a atenção para este comportamento que ocorre há séculos. É dever de cada um impedir o sexismo, e talvez isso ajude a escrever uma história com mais equidade e uma ciência que chame atenção para cada vez mais novas “Matildas”, ao invés de deixá-las para trás.

 

Referências Bibliográficas

 

DE BARROSIV, V.A.M. Difusão de tecnologia e sexismo nas Ciências Agrárias. Ciência Rural, Santa Maria. 2009.

DE PROENÇA ROSA, C.A. História da ciência. Fundação Alexandre de Gusmão, 2010.

KELLER, E.F. Qual foi o impacto do feminismo na ciência. Cadernos Pagu, v. 27, n. 27, p. 13-34, 2006.

LETA, J. As mulheres na ciência brasileira: crescimento, contrastes e um perfil de sucesso. Estudos Avançados, v. 17, n. 49, p. 271-284, 2003.

ROSSITER, M.W. The Matthew Matilda effect in science. Social studies of science, v. 23, n. 2, p. 325-341, 1993.

SOARES, T.A. Mulheres em ciência e tecnologia: ascensão limitada. Química Nova, v. 24, n. 2, p. 281-285, 2001.