História da Homossexualidade e a Influência do Cristianismo no Surgimento da Homofobia

 

HISTÓRIA DA HOMOSSEXUALIDADE E A INFLUÊNCIA DO CRISTIANISMO NO SURGIMENTO DA HOMOFOBIA

 

Sandomar de Angelo da Silva

No Brasil, existe uma persistente violação de direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) e essas atitudes corroboram para atos de cunho homofóbico e transfóbico que pode ser entendida pelo preconceito ou discriminação (e demais violências daí decorrentes) contra pessoas em função de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero presumidas, que possui um caráter multifacetado e abrange mais do que as violências tipificadas pelo código penal.

No entanto, o termo homofobia é constantemente problematizado em decorrência de sua possível homogeneização sobre a diversidade de sujeitos que pretende abarcar, podendo tornar invisível violências e discriminações cometidas contra lésbicas e transgêneros (travestis e transexuais). O intuito da palestra foi abranger a origem dos atos de violência, preconceito e ódio ao comportado homossexual ditado pela sociedade intitulada de característica cristã, desde o surgimento das primeiras civilizações até a contemporaneidade discutindo também, as conquistas pelos grupos de libertação gay e influência da mídia sobre a controversa moral e bons costumes instituídas pelo modelo judaico-cristão das comunidades ocidentais.

Inicialmente definiu-se os termos sexualidade pela visão da psicologia e dos teóricos Michael Foucalt e Sigmund Freud, a partir de uma visão não científica do comportamento humano onde, o primeiro instituía a sexualidade de forma individual assim como os conceitos do capitalismo abarcada por discurso moral da sociedade a partir dos anos de 1870 e que necessitavam do relato para que essa sexualidade, fora do conceito normatizado, se transformasse em discurso proibitivo. A postura teórica de Foucault se situa no contexto da crítica do pensamento fenomenológico-antropológico de uma filosofia marcada pela “centralidade do sujeito”, através de uma “ontologia do impensado”: toda a conduta do sujeito é dirigida por um esquema simbólico, por um sistema que muda com as idades e as sociedades. Elas fazem parte, com outras práticas discursivas, de complexos de poder. Foucalt afirmava que nas sociedades ocidentais, durante séculos, se ligou o sexo à busca da verdade, sobretudo a partir do cristianismo pelo uso da confissão, colocando a sexualidade no centro da existência. O sexo, nas sociedades cristãs, tornou-se algo que era preciso examinar, vigiar, confessar e transformar em discurso. Em um sentido comum e popular, sexualidade é considerada sinônimo de genitalidade assim como vida sexual é tida como equivalente a relação sexual para Freud que dá ao termo um significado bem mais amplo situando sexualidade tanto aquém como além do ato sexual. Ele prefere falar em psicossexualidade a partir de cinco fases de desenvolvimento. Cada estágio - oral, anal, fálico, latente e de latência genital - é caracterizado por uma zona erógena, que é a fonte de unidade da libido desde a infância.

A homossexualidade é uma característica de quem sente atração física, emocional e espiritual por outras pessoas do mesmo sexo. O termo homossexual foi criado por um jornalista austro-húngaro chamado Karl-Maria Kertbeny em 1868, acredita-se que desde a antiguidade já existiam pessoas com tal característica. Ele introduziu nova terminologia sobre a homossexualidade no mundo, tendo sido o inventor do termo homossexual (bem como heterossexual, entre outros menos pertinentes na atualidade).

Três visões sobre a origem da homossexualidade foram dispostas na palestra: Biológica e Evolucionista, Sociológica e Antropológica e a visão Teológica Cristã: A homossexualidade, para a ciência, é natural e existem tantas evidências que apoiam tal tese que ir contra ela é, simplesmente, inútil. Aceitá-la, por fins práticos, tem mais sentido do que renegá-la. O problema não é se a homossexualidade é um construto social ou um desvio de conduta moral – já que essas propostas já foram refutadas, o problema é o que a causa: formação congênita, genética, epigenética (como as modificações de cromatina e DNA), instinto, fator neuroendócrino inato, desenvolvimento hormonal ao longo da vida. Há várias suposições apoiadas por diversas evidências. Para a sociologia e a visão Teológica, as perguntas chaves do comportamento homossexual durante séculos foi: “Poderia ser a homossexualidade uma simples questão de ‘opção'? Uma questão de escolha do indivíduo em relação à sua sexualidade? Ou seria algo incontrolável, um traço hereditário e imutável? ”Essa foi uma das razões abarcadas na discussão de que realmente a homossexualidade é vista como pecado e na história mostrou-se que, na linha do tempo, o preconceito a esse comportamento surgiu pela instituição do cristianismo pelos impérios romanos que, fundamentada pela perda da visão como divindade dos grandes governantes a partir da proliferação das palavras de Jesus Cristo pelos apóstolos nas grandes civilizações antigas, houve a necessidade de agregar meios para a união dos povos e possível conquistas de novos territórios. As três grandes civilizações antigas, romana, grega e egípcia eram politeístas, misóginas e aceitavam a homossexualidade e pederastia como forma de instrução pedagógica e houve, de acordo com estudos, união homoafetiva entre divindades (Horus e Seth) que é um forte indício de aceitação da homossexualidade dentro de qualquer cultura, pois o mito é normativo por excelência mas foi corrompida pela igreja com intuito da diluição do poder dos governantes para o clérico cristão que, a partir da Idade média, propôs castigos, prisões e mortes a quem se posicionasse contra os dogmas da igreja. É impossível dissociar religião de cultura na civilização judaico-cristã, e consequentemente homofobia, machismo e misoginia na história desta. A história comprova que culturas mais tolerantes com a homossexualidade eram as que possuíam deidades, mitos e lendas homo ou bissexuais. Mas qual a influência que estas antigas culturas têm em relação ao preconceito que hoje existe (e é abertamente declarado) dos atuais católicos, muçulmanos, protestantes e/ou evangélicos contra os homossexuais? Não existe, pela razão de que vivemos em uma sociedade que foi alicerçada na normativa Judaico-Cristã extremamente machista-patriarcal, baseadas no antigo testamento e estes conceitos e padrões serviram de norte para os homens que moldaram a Cultura Ocidental, nos ensinamentos Judaico-Cristãos. A Torá (Velho Testamento) deixa bem claro que homossexualidade deve ser punida com pena de morte e isso vem sendo enfatizado pelas religiões judaica, cristã e islâmica, que foram por ela influenciadas. Mesmo com vários eventos históricos impondo tolerância e normatividade ao comportamento homossexual, durante séculos, milhares de pessoas foram perseguidas pelo simples fatos de deterem esse comportamento e inclusive hoje, é investimento principal de partidos políticos e governos que têm influência religiosa nas suas composições. No Brasil, personagens como o pastor Silas Malafaia, o deputado federal Marcos Feliciano aliados a políticos de facções militares como Jair Bolsonaro promovem discursos de ódio para as pessoas LGBT desqualificando sua forma de amor, convivência e cidadania a partir do discurso religioso que impera, inclusive, na mídia popular (TV, jornais, revistas, etc), centros de formação educacionais, templos e igrejas e bancadas dos congressos municipais, estaduais e nacionais. Também foi discutido o empenho de grandes ativistas na história que viveram para discursar contra os dogmas cristãos que combatem os homossexuais e demais minorias citando o político norte americano Harvey Milk, morto em 1978. A associação da AIDS, descoberta na década de 1980 com os homossexuais foi uma bandeira levantada pelas instituições religiosas contra os LGBT e desmistificada graças a programas de governos que abrangeram a doença a todas as pessoas sexualmente ativas e não restringindo apenas a um grupo.

Em tempos em que os mecanismos para se dar voz às minorias que não possuem efetiva representação política encontram-se emperrados por assombrosas reações opressoras instaladas nas casas legislativas e a frieza e falta de sensibilidade diante da problemática evidenciada pelos noticiários policiais, do aumento das estatísticas da violência contra a população LGBT e os inúmeros casos de homicídios de jovens motivados pela homo/transfobia está em tramitação no congresso nacional a PLC122/2006 (Projeto de Lei da Câmara) que visa, em resumo, equiparar a homofobia ao crime de racismo tipificado na Lei n. 7.716 de 5 de janeiro de 1989, acrescentando-se, como crime as discriminações por orientação sexual e identidade de gênero, além da discriminação de idosos e pessoas com deficiência. 

Crianças e adolescentes estudantes sofrem com discriminação e preconceito tanto por parte de estudantes, quanto de professores e diretores das escolas. Estudo realizado em 501 escolas detectou que 80% dos alunos gostariam de manter algum tipo de distanciamento de portadores de necessidades especiais, homossexuais, pobres e negros. 17,4% relataram ter conhecimento de alunos vítimas de bullying devido à sua homossexualidade. O Ministério da Educação passou a financiar projetos para ajudar as escolas a lidarem com o problema da homofobia.

A homossexualidade, apesar de não ser o padrão de comportamento sexual da maioria já foi visualizado em mais de 1500 espécies de animais, inclusive o homem.

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no país, segundo pesquisa da organização não governamental (ONG) Transgender Europe (TGEU), rede europeia de organizações que apoiam os direitos da população transgênero. “A invisibilização e o desconhecimento das transexuais espelha se também na subnotificação nos meios midiáticos, onde não se encontraram notícias relacionadas a essa parcela da população”, diz o relatório. Na imprensa, a violência física à população LGBT é a mais relatada, com 74,56%; seguida pelas discriminações (8,02%), violências psicológicas (7,63%) e violência sexual (3,72%). Entre as violências físicas, os homicídios são os mais noticiados, com 74,54%, seguidos por lesões corporais (10,76%), latrocínios (6,82%) e tentativas de homicídio (7,87%). De acordo com o documento, 54,19% das vítimas eram do sexo masculino e 40%  eram travestis. As transexuais também querem encontrar mecanismos para que a violência doméstica contra essa população não fique impune. Para isso, elas reivindicam o amparo da Lei Maria da Penha. Na avaliação delas, esse é um passo importante na conquista da igualdade de condições e de direitos. Um projeto de lei (PL 8032/2014) de autoria da deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ) tenta deixar a legislação mais clara e ampliar a proteção da Lei Maria da Penha para transexuais e transgêneros que se identifiquem como mulheres. E todos nós, em função da nossa formação patriarcal, misógina, machista e homofóbica contribui para esse tipo de ação.

Não precisamos apenas em um Deus, precisamos de “leis” que nos permitam sermos humanos como qualquer filho “Dele”, sem restrições de direitos. Vale-se lembrar que as opiniões acerca de quaisquer assuntos são direito de todos, mas o preconceito, seja para qual ser vislumbre, não é opinião.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A ORIGEM DA PALAVRA HOMOSSEXUAL. <http://karl-maria-ketbeny.blogspot.com.br/2006/03/origem-da-palavra-homossexual.html>

UMA ABORDAGEM CIENTÍFICA DA HOMOSSEXUALIDADE <http://climatologiageografica.com.br/abordagem-cientifica-da-homossexualidade/#ixzz4DBqaaO50>

TEORIA GENISTA SOBRE O HOMOSSEXUALISMO. João Carlos Holland de Barcellos < http://www.genismo.com/genismotexto33.htm> (março/2000 Rev. fev/2005)

REVISTA SUPER INTERESSANTE: Por que os gayssão gays? <http://super.abril.com.br/ciencia/por-que-os-gays-sao-gays>

http://hypescience.com/27589-a-causa-do-homossexualismo/

http://www.scientificblogging.com/news_articles/evolutionary_role_samesex_attraction

http://www.thestar.com/news/sciencetech/science/article/762699--gay-uncles-important-for-evolution-study-finds

O DNA e a homossexualidade <http://www.cartacapital.com.br/revista/872/dna-e-homossexualidade-4811.html> por Drauzio Varella — publicado 28/10/2015

http://fundamentalismoepreconceito.blogspot.com.br/2012/01/homofobia-e-civilizacao-judaico-crista.html

A HOMOSSEXUALIDADE E A SUA HISTÓRIA: Francisco Carlos MOREIRA FILHO

RIBEIRO, M.O. A sexualidade segundo Michel Foucault: uma contribuição para a enfermagem.   Revista da Escola de Enfermagem USP, v. 33, n. 4, p. 358-63, dez. 1999.