Manejo Integrado de Espécies Ameaçadas

Palestra “Manejo Integrado de Espécies Ameaçadas”

Letícia Benavalli

A diversidade biológica vem sofrendo processos de extinções sem precedentes. As principais ações antrópicas que provocam esses processos são a destruição e fragmentação de ecossistemas, degradação de hábitat, superexploração das espécies para uso humano, introdução de espécies exóticas e aumento da ocorrência de doenças.  A maioria das espécies ameaçadas sofre mais ameaças além das supracitadas, o que acarreta na redução populacional destas. Portanto, para garantir a conservação das espécies de populações reduzidas é necessário garantir a sobrevivência de um número mínimo de indivíduos.

Ainda, pequenas populações podem ser ameaçadas por fatores intrínsecos ou extrínsecos que afetam a variabilidade genética das espécies. Dessa forma, naturalmente, as pequenas populações não são capazes de se recuperar com os mesmos níveis de oportunidades que as grandes populações possuem.

Diante desta problemática, o principal objetivo dos conservacionistas é reduzir as ameaças negativas que norteiam as espécies, com o intuito final aumentar a probabilidade de sobrevivência destas. Entretanto, em casos extremos ou quando estas probabilidades não são geradas naturalmente, faz-se necessário o manejo genético e/ou demográfico para manter patamares mínimos viáveis.

Para construir um plano de manejo é necessário considerar que o objetivo de salvar uma espécie está diretamente relacionado à proteção de seu habitat. Ao diagnosticar o status da espécie em seu ambiente selvagem, pode-se descobrir qual é a necessidade de alocação de esforços mais urgentes: em cativeiro ou na natureza, considerando as melhores oportunidades que aumentarão o fluxo gênico entre as espécies.

Movimentos de translocação e reintrodução de indivíduos são ações que facilitam a troca gênica entre diferentes animais de uma mesma espécie. Entretanto, a reintrodução e as populações em cativeiro não devem compor as únicas soluções para conservação de espécies com baixo tamanho populacional, uma vez que o custo de criação de um tamanho viável de população fora de seu ambiente natural é altíssimo.   Além disso, ao longo do tempo, é necessário inserir novos indivíduos selvagens a estas populações, caso contrário, poderá ocorrer um depauperamento genético destas.

Nesse sentido, programas de manejo que envolva ações integradas na natureza e em cativeiro são os mais indicados, pois geram soluções diferenciadas e que, de fato, contribuem para a conservação de espécies ameaçadas. O programa de manejo de metapopulação busca garantir o fluxo gênico por meio de movimentações entre indivíduos de subpopulações restritas à ambientes fragmentados e àqueles presentes em uma população de cativeiro. Essa estratégia pode ser utilizada para repovoar uma população na natureza, visto que mantém a diversidade genética e demográfica destes animais.

            Dessa forma, as etapas fundamentais para o sucesso do programa de manejo são: pesquisa, ação e recursos. Como um trabalho de conservação e envolve ações a longo prazo, é necessário buscar recursos que garantam a continuidade do programa. A pesquisa deve sempre direcionar o estabelecimento de ações conservacionistas, pois data a atual situação da espécie, seja em campo ou em cativeiro. A ação, por sua vez, engloba as etapas de planejamento, execução e avaliação das direções que estão sendo tomadas. Ainda, nesta etapa são compilados dados cruciais para o programa, tanto referentes às atividades em natureza (e.g. análises genéticas, reconstrução de habitat e levantamento) quanto em cativeiro (e.g. compilação de dados básicos da colônia, análise bioquímica e demográfica, entre outros).

            Além disso, deve ser incorporadas ações de educação ambiental e políticas públicas, visando o apoio da comunidade e parcerias que são fundamentais para conservação efetiva, por exemplo, a parceria com proprietários de áreas de habitat de espécies ameaçadas.   Portanto, resultados duradouros para a conservação de uma espécie são atingidos quando há parcerias, ações públicas e apoio da comunidade local, além de uma visão conservacionista baseada na paisagem, que envolva técnicas sustentáveis, restauração do habitat e uso de manejo integrado.

Referência Bibliográfica

CULLEN, L. Jr.; RUDRAN, R.; VALLADARES-PADUA, C. Métodos de estudos em Biologia da Conservação & Manejo de Vida Silvestre. 2ª edição. Curitiba: Editora UFPR, 2012. 651 p.